Introdução
Tornar-se adulto vai muito além de atingir a maioridade legal ou conquistar autonomia financeira. Para muitas pessoas, o processo de amadurecimento psíquico é complexo, doloroso e repleto de angústias. Sentimentos como medo, insegurança, indecisão ou uma sensação de paralisia diante da vida são mais comuns do que se imagina. A psicologia, especialmente sob a ótica da abordagem junguiana, reconhece esse caminho como parte de um processo profundo de individuação, um chamado para tornar-se quem realmente se é.
O que significa se tornar adulto?
Do ponto de vista psicológico, tornar-se adulto não é apenas assumir responsabilidades ou viver sozinho, mas desenvolver uma estrutura interna capaz de sustentar a própria existência. Isso envolve lidar com escolhas, frustrações, perdas, conflitos e sobretudo com os próprios limites e potências.
Segundo Jung (1954), a maturidade psicológica começa quando o ego se torna capaz de dialogar com o inconsciente, integrando aspectos até então reprimidos ou ignorados. Isso requer um movimento ativo de autoconhecimento, enfrentamento da sombra e reconstrução interna.
“O indivíduo que não assume o próprio destino torna-se prisioneiro de sua infância e da vontade dos outros.”
— Carl Gustav Jung, Psicologia do Inconsciente
Por que é tão difícil?
Alguns fatores podem dificultar esse processo:
1. Infância sem base emocional sólida
Pessoas que cresceram em ambientes emocionalmente negligentes ou confusos muitas vezes não desenvolveram os alicerces necessários para a autonomia. A falta de acolhimento, validação emocional ou modelos adultos saudáveis pode gerar adultos inseguros, imaturos emocionalmente ou excessivamente dependentes.
2. Medo de errar e do julgamento
O perfeccionismo, frequentemente aprendido na infância, paralisa. O adulto jovem teme decepcionar, fazer escolhas erradas ou não ser bom o suficiente. Isso alimenta um ciclo de procrastinação, fuga e autossabotagem.
3. Prolongamento da adolescência
Em uma sociedade que valoriza juventude, liberdade e prazer imediato, muitos resistem inconscientemente ao amadurecimento. Jung já apontava que há fases naturais na vida, e resistir à transição para a fase adulta leva a desequilíbrios psíquicos importantes.
“A transição da juventude para a vida adulta é uma das mais difíceis da existência, pois exige que morram partes do ego que antes nos protegiam.”
— C.G. Jung, Tipos Psicológicos
4. Ausência de sentido
A vida adulta exige não só ação, mas propósito. Muitos se sentem perdidos porque tentam corresponder a expectativas externas sem se perguntar o que realmente faz sentido para si.
Como a psicologia pode ajudar?
A psicoterapia oferece um espaço seguro para:
Elaborar dores da infância e padrões herdados;
Reencontrar partes esquecidas de si;
Desenvolver estrutura emocional para lidar com a vida;
Construir um sentido pessoal de ser adulto — diferente do ideal socialmente imposto.
A abordagem junguiana, em especial, convida o indivíduo a se reconectar com sua totalidade psíquica, através do processo de individuação, integrando persona, sombra, anima/animus e o Self.
“Não somos o que deveríamos ser, somos o que conseguimos ser com aquilo que vivemos.”
— Carl Jung
Conclusão
Tornar-se adulto não é um evento, mas um processo contínuo de amadurecimento emocional, psicológico e espiritual. Cada passo rumo à vida real é também um passo rumo à própria verdade interior. E embora esse caminho seja muitas vezes solitário e desafiador, ele é profundamente transformador.
—
Referências Bibliográficas
Jung, C.G. (1954). Psicologia do Inconsciente. Vozes.
Jung, C.G. (1971). Tipos Psicológicos. Vozes.
Neumann, E. (1995). História da Origem da Consciência. Cultrix.
Stein, M. (2006). Jung e o Mapa da Alma. Cultrix.
Hillman, J. (1997). O Código do Ser. Objetiva.